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O que é um "hang"?

 

 

Havia um sossego estranho no Meio da Vila, respeitando o vizinho que falecera de manhã no hospital da Horta, cujo destino final é muito frequente.

Mas da sombra da altaneira Matriz que vigia o velho burgo, chegavam sons maviosos que não perturbavam os descansados transeuntes. Nem o ruído dos preguiçosos automóveis, deslizando na calçada irregular, calavam as doces e angelicais melodias. Que instrumento tão invulgar!...

Aproximei-me do banco do adro. Uma jovem tangia um desconhecido instrumento de metal. “É um hang, originário da Suiça”. Os sons são obtidos através da percussão dos dedos sobre vários pontos da superfície circular e abaulada. “Parece uma cataplana”, explicou-me ela. E continuou a “tocar por prazer”, indiferente à minha presença.

“Cheguei ao Pico em Janeiro e vivo na Terra do Pão”.

Junto de Maria Margarita, natural da Bélgica, encontrei um CD de onde, certamente, lhe vinham alguns proveitos. “Vive-se mais ou menos. Já fiz alguns concertos em escolas” para divulgar o instrumento que tão sentidamente dedilha.

E lá ficou, enchendo a praça de música tradicional europeia que aliviava as dores da alma. Ao lado, indiferentes aos sons, algumas pessoas entravam e saíam da farmácia em busca de outros remédios para as maleitas de uma população em declínio acentuado.

Maria Margarita com o seu hang, escolheu o sopé da Montanha para viver no Pico.

Outros estrangeiros o fizeram também, optando, ao redor da ilha, pelo silêncio, pelos suaves odores da manhã e do entardecer, pelo ambiente saudável, pela riqueza da biodiversidade, pela beleza da paisagem.

Na década de 60, o casal Buton descobriu a Ilha do Pico. Eram belgas, também. Ele, pintor, aguarelista, apaixonou-se pelas “nuances” cromáticas da paisagem e da Montanha do nascer ao pôr-do-sol.

Chegava à ilha no início da primavera. Sentado em frente ao cavalete, num pequeno banco, o seu atelier eram os lugares sobranceiros às Lajes, de onde se admirava a Montanha, a ilha, o mar.

Pintou inúmeros quadros. Fez exposições. Vivia da sua criação artística cujas tonalidades representavam a felicidade, o amor, a jovialidade da natureza que ele próprio simbolizava no seu trato afável e simples.

Fernand Bouton deixou um legado artístico como nenhum outro estrangeiro. Seria do máximo interesse sinalizar toda a obra que respeita a esta ilha e reuni-la em exposição para que as gerações de agora acedessem a tão valioso espólio. Cabe às instituições culturais e educativas essa tarefa, dando a conhecer a criação artística dos estrangeiros sobre temática picoense e açoriana, e incentivarem outros a exporem os seus trabalhos nos locais onde foram realizados.

Ao longo de algumas décadas, a caça à baleia na Ilha do Pico, efectuada por processos artesanais, motivou grande interesse em cadeias de TV de dimensão mundial e em produtores cinematográficos independentes, que realizaram reportagens, séries documentais e filmes. Alguns nunca foram aqui exibidos. Nesse tempo, não havia a noção dos direitos de imagem nem de baleeiros, nem dos meios de transporte utilizados.

Os tempos são outros, por isso importa salvaguardar esses direitos que a indústria turística tende a desconhecer, propositadamente.

Compete aos destinos acautelar a simplicidade dos nossos hábitos e vivências e prestar serviços de qualidade que os visitantes merecem e reclamam. Eles são os melhores promotores do nosso destino.

Aos visitantes e produtores de imagem exige-se o cumprimento de direitos e deveres que a sociedade consagrou, entre os quais o direito de imagem.

Queremos ouvir a sua opinião, sugestões ou dúvidas:

info@adiaspora.com

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